A carta vos apresento é de um grande amigo que me permitiu
reproduzi-la desde que seu nome não fosse revelado. E pediu-me ainda que a intitulasse
como “O Filho Renegado – Para todos que tentaram”.
Olá, meu nome é... Bom, meu nome não importa. E foi assim que eu me
senti durante anos e anos por entre a minha família, sem nenhum timbre de
importância. Não quero mudar o que se foi, só quero usar o passado para dizer
que entendo sua dor e te mostrar um caminho.
Quando digo filho renegado, não estou falando de alguém que foi jogado
na lata do lixo ou foi abandonado em uma casa adoção quando criança, mas de
alguém que só queria se sentir amado pelas pessoas que chamou, durante muito
tempo, de pai e mãe, de família.
Não foram poucas as vezes em que eu me anulei e fiz de tudo para ter um
pouco de carinho, amor e atenção. Deixei de ser quem eu sou, de falar o que
sinto e penso e de fazer o que eu realmente gostaria para ver se eles notavam o
quanto eu precisava de um pouco de afeto deles. É verdade quando digo que nunca
me senti amado. Tanto que me lembro de, um dia, em minha infância, perguntar-lhes
se eu era adotado e eles rirem da pergunta.
Então você pergunta: “Eles não te deram roupa e comida? Não te
colocaram na escola?” Eu te respondo: “Trocaria tudo isso e muito mais por me
sentir amado. E quem sabe assim eu não precisaria ser uma pessoa indisciplinada
na escola, pois era o único momento que eles voltavam a atenção para mim, nem
que fosse para me xingar e me deixar de castigo. Era o único momento que eles
me olhavam nos olhos e fazia parecer notória a minha existência. Eu encarava a
fúria deles como a única forma de amor, a única forma de sentir que eu tinha a
atenção deles”.
A coisa piora quando você tem um irmão desregrado, desobediente e
arrogante, mas que recebe dos seus pais tudo o que você daria a vida para
receber. De fato, meus pais nunca entenderam o efeito que causaram sobre a
minha vida, e quando eu tentava lhes dizer, eles negavam e fingiam que estava
tudo bem. A postura defensiva que eles adotavam não os permitia enxergar minhas
dores, pois para isso precisariam admitir que erraram, e isso nunca foi um
costume deles.
Não adiantou chorar ou entrar em
depressão, nem coisa semelhante a estas. Eles apenas diziam: “tratamos o seu
irmão do mesmo jeito e isso não aconteceu com ele”. Não sei o que eles pensavam
quando me comparavam, mas tudo o que me faziam sentir é: “Nem todo mundo é
fraco como você”. Esses eram os momentos que eu mais queria fugir de casa, ir
embora, não importava o que eu tivesse que fazer.
Se você é pai ou mãe, ou
pretende ser, por favor, entenda uma coisa: é impossível amar duas pessoas da
mesma maneira, mas é possível fazer com que cada uma delas se sinta amada quando
você olha para a alma e supre as necessidades específicas. Seria um absurdo
amar quem está com fome dando-lhe agasalho, e amar quem está com frio dando-lhe
comida; do mesmo jeito que é um absurdo achar que está amando quem precisa de
afeto dando casa, roupa e comida. Em resumo, se você ama as pessoas do jeito
que você quer e não do jeito que elas precisam, você nunca amou ninguém.
Para finalizar, quero passar o conselho que me deu forças para seguir
em frente: “não busque o que nunca vai encontrar”. Eles, os pais que te negam,
nunca vão tentar entender e nunca vão pedir desculpas. O jeito é, apesar de ter
sido vítima da criação e do desamor incompreensível da parte deles, não fique
se colocando no lugar de vítima. Erga a cabeça e siga sua vida. Mude os
conceitos. Eles são bons cuidadores. Mas chame de família apenas as pessoas que
se esforçam para você se sentir bem, isso vai evitar sofrimento. Não venha com
discurso de que família não se escolhe, e nem venha jogar a culpa em Deus ou no
destino. Ter o mesmo sangue nunca foi motivo o suficiente para amar ou esperar
ser amado. E talvez esse seja o grande erro, achamos que vão nos amar como se
deve amar, suprindo nossas necessidades; essa é a ilusão que causa a pior das
dores, a dor de não se sentir amado, e, consequentemente, acreditar que não
merece ser.
Como disse uma grande, e não politicamente correta, amiga: Não se ama
com o sangue, se ama com o cérebro. E eu traduzo essa verdade da seguinte
forma: Família não é quem tem o nosso sangue, é quem escolhemos para amar e
proteger com todas as nossas forças, analisando e suprindo suas necessidades.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSer filho renegado é: não sentir, não chorar, não rir, não falar, não ouvir, não fazer nada. Mas fazer tudo isso sem sentindo, chorando, rindo, falando, ouvindo, e fazer tudo sem ter o mínimo de reconhecimento por parte de quem se mais precisa ouvir uma palavra, e que não seja. Você nunca faz nada.
ResponderExcluirEnfim, vamos amar mentalmente as pessoas que nos deram o sobrenome. Isso claro, podendo nos amar com todo amor que não recebemos.
Que rebelde, não? Kkkkk
Exatamente.... és boa com as palavras!
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